segunda-feira, 9 de abril de 2012

Fragmentos: Inverno



                                                                                                                               São Joaquim  Brasil  2012

  Coloquei na mesa diante do meu irmão tudo que trazia. Uma tesoura, uma bola de natal, uma louça, uma caixa de musica, 3 pratos. Trocamos olhares.


- É isso? -concordei com a minha cabeça.


Ele passou a tomar cada coisa a seu tempo, segurando o peso da tesoura antiga, vendo seu reflexo na esfera azulada de outrora, nas linhas de uma louça art déco, na boneca de porcelana que girava ao som da música com seu bouquet de flores a mão. Os pratos com algumas cores em formas de folhas.


- E os cálices?
- Não existem mais...
- As taças? As coisas do vovô? As alianças bonitas? A máquina?


Balancei a cabeça.


- Então é isso...
- ...E o caso criado.


Olhamos tudo por mais algum tempo. 

- Não há mais flores lá...É como se o inverno tivesse chegado e queimado tudo... -meu irmão pareceu não ouvir-...Mas uma libélula pousou no meu ombro quando me faltou coragem...


Alguns minutos se passaram.


- Que cor ela tinha? -ele disse baixinho.
- Verde...Ela era verde e parecia não ter medo de mim...


Foi sua vez de concordar com a cabeça.


- Este inverno não vai durar gerações...-ele pareceu rir vendo o livro que segurava na mão.


Sentia como se já houvesse durado. Gerações. Não eramos testemunhas? Parecia que os Sete Reinos não eram tão ficcionais.


Contudo, lembrei-me da libélula. E de alguma forma isso me fez bem. 

"Não há felicidade sem fim, nem tristeza que nunca acabe". Parecia ouvir a voz dela dizer. Ela lavando louça, ralhando para não deixar que colassem chicletes no meu cabelo mais uma vez, não voltar com meus joelhos ralados, e mandando-me não chegar atrasada ao colégio.