quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Fragmento: O Misterioso Caso do Vestido Branco




O Misterioso Caso do Vestido Branco

A Madame Cristie está se remoendo no túmulo pela antiga historia que estou prestes a contar. Não que envolva assassinatos por envenenamento, sumiço de diamantes Romanov ou testemunhos oculares em trens. Mas ainda assim é por demais interessante.
E como tudo começou não me alertou para nenhuma situação fora do comum.

 A historia se inicia seguindo a sina de família, ao encontrar um vestido branco em uma loja de departamento que minha mãe já tinha sua familiaridade. Calma, era liquidação de verão... Ah meu Deus, estou tornando-me minha mãe! Mas, ok,  voltando ao caso, era janeiro, e logo aniversário de mais de meio século de um patriarca, a ocasião pedia algo especial, tal como encontrar meu rolo da época, em uma outra festa, depois. Um negócio da China pensei comigo.

Para não dizer que nunca o usei; usei o dito uma vez somente. Apenas nesta festa familiar e para luzir bonita para o rapaz em questão, o vestido realmente ajudou a causar uma boa impressão. A festa, em Sambaqui, virou a noite. Então, na manha seguinte, guardei o vestido branco na minha bolsa e coloquei uma roupa básica que havia trazido para aproveitar o dia.

E para mim, isso foi. Nada no reino da Dinamarca até aqui.

Quando na semana seguinte resolvo usá-lo novamente no Carnaval, cadê? Nada. Reviravolta no armário? Nada. Na roupa suja, no varal, na roupa sem passar...caiu do varal? Nada. Atrás do armário ou da escrivania? Nada. Pede para minha amiga procura-lo até cansar? Nada. Abduzido por aliens? Nada. Foi para minha cidade natal na confusão de malas? Nada. As opções tinham se esgotado.

Passou o mês, e mais o outro, e assim por diante e aquele desaparecimento inexplicável estava me atormentando. Como um vestido some assim? Nem era pelo preço ou valor sentimental, era o mistério, como não podia lembrar o que tinha feito com o dito cujo?

Entra aqui a sabedoria milenar, e minha tia sugeriu que “responsasse” a Santo Antônio. Para quem não conhece o termo, já deve ter percebido que você joga a responsabilidade ao santo e reza para ele te ajudar no angu. E até me indicou alguém renomado no assunto, que iremos chamar de Dona “J”.

Eu a conhecia pela família, e tinha conversado com elas poucas vezes na época do divorcio dos meus pais. Diziam que ela era uma mulher agraciada com o dom de “ler” teu caminho, via coisas que outros não podiam. Passado, presente e futuro, podes escolher. Mulher bem simples, direta, crente em Deus e por um lado bem assustadora. Não queria que ninguém “lesse” minha dor, meu medo, minha frustração e minha falta de esperança, para mim já estava bem evidente.

Mas este novo encontro foi sem estas angustias, conversamos de varias coisas e até confessei minha antiga impressão dela. Foi um encontro bom. Sobre o vestido, ela disse que o via bem enrolado, dentro de uma sacola de plástico, não podia dizer onde estava... Não conseguia ver bem... Mas não era para me preocupar que ele ia voltar as minhas mãos logo. E que na verdade, o vestido tinha sido apenas uma desculpa para conversarmos coisas mais importantes. Que ligasse para ela na sexta, ela ia responsar.

Bem, era uma terça.... Quarta... Quinta.... Sexta... Liguei. Eram 16h. Não, ela não podia me dizer se estava aqui em casa, porém não tinha sido roubado. Estava apenas perdido, caído, e ninguém viu. Enroladinho, dentro de uma sacola. E ela me via, rindo, com ele na mão. Mais algumas coisas reveladas e agradeci. Desliguei. Já tinha ficado mais do que feliz que ia aparecer.

Tive que sair para resolver uns assuntos no centro, e uma duvida me invadiu: ia na casa da minha amiga (era aniversário dela) ou não arriscava perder minha aula as 19h... Chequei o relógio, 17: 15. Ia arriscar. Esta amizade valia muito para mim, e tínhamos passado um afastamento, e agora estávamos mais próximas de novo. Aniversário é uma vez ao ano, e amizade é amizade.

Cheguei, no Sambaqui, e fui muito bom revê-la. Conversamos. Rimos. E aí ela levanta e me diz: “Tenho que te entregar uma coisa”. Gelei, pois na hora pensei: "É o vestido". Tive até que me sentar quando ela voltou com uma sacola de plástico com um visível vulto branco todo enroladinho. Só pude dizer: “Se for o meu vestido branco...” e ri.

Era. O vestido branco. O Tal. Na mesma sexta. Eram 18:50. Não tinha sido roubado. Passou apenas alguns meses perdido, caído, esquecido atrás do móvel da televisão.


 

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