sábado, 16 de junho de 2012

Arte em palavras: Amor-Perfeito por Cecília Meirelles






Quando  criança, minha Vó Maria me dava um ramalhete de amor-perfeito para guardar dentro dos livros. Você  coloca cada flor no meio das páginas, e passado o tempo, ela fica como seda. Então, fica aquela linda surpresa colorida e cheia de significados para sempre. 

"Suas cores são as de outrora,

com muito pouca diferença:

o roxo foi-se quase embora,

o amarelo é vaga presença.

E em cada cor que se evapora

vê-se a luz do jardim suspensa.



Tão fina foi a vida sua,
tão fina é a morte em que descansa!
Mais transparente do que a lua,
mais do que as borboletas mansa!
Tanto o seu perfil atenua
que, em peso, é menos que a lembrança.

Veludo de divinos teares,
hoje seda seca e abolida,
preserva os vestígios solares
de que era feita a sua vida:
frágil coração, capilares
de circulação colorida.

Se o levantar entre meus dedos,
pólen de tardes e sorrisos
cairá com tímidos segredos
de tempos certos e imprecisos.
Ó cinco pétalas, ó enredos
de sentimentais paraísos!

Mas de leve gota pousada
no veludo, - mole diamante
que foi a resposta da amada,
que foi a pergunta do amante –
dela não se verá mais nada:
perdeu-se no vento inconstante".






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