“Eu tinha acabado de me livrar de uma doença séria, da qual
nem vale a pena falar, exceto que teve algo a ver com a maldita separação
e com o meu sentimento de que tudo estava morto. Com a vinda de Dean
Moriarty começa a parte de minha vida que pode ser chamada de vida na estrada”.
Quando eu soube que o Salles tinha conseguido quebrar
a maldição, e finalmente o projeto para adaptar este livro tinha
conseguido o sinal verde do Copolla... Fiquei contentíssima.
O diretor brasileiro já tinha provado seu feeling com road
movies com o magistral Diários de Motocicleta, e Kristen Stewart
(no elenco desde os 16 anos por Marylou) afirmava que era um dos seus livros
favoritos. E alguém que tem Steinbeck como autor preferido, tem
todo meu credito. Assim, com ótimos indícios, coloquei este clássico na
minha lista dos livros have to read.
>
>
Ok, depois de le-lo, consigo compreender a razão de ser
o ícone de uma geração, de um movimento literário, catarse de muitas coisas que
surgiram. Não apenas na literatura, como na musica, poesia,
cinema...Compreendo. Retrata algo do pós guerra, final da década de 40,
onde o mundo tentava descobrir como viver depois de uma II Guerra. Todos
ansiavam por vida e famílias felizes ...Uma compensação, uma negação.
Sim, ao ler “On The Road” você sente o “beat”...O texto é
rápido, cheio de descrições e viradas aleatórias, não segue uma matriz
clássica. Sim, você está na estrada e não sabe o que irá cruzar teu caminho. É
pulsante e intenso e novo para sua época.Ilustra uma geração que procura
sentido, direção... Onde jovens de classe média branca letrados buscam drogas
variadas, sexo antes do casamento, música negra, mescla de classes e raças,
confissões cortantes... Isso tudo antes do movimento Hippie ou do Rock´n´roll.
Percebe-se entre as viagens, como Salt muda de alguém
excitado com as incertezas da estrada para alguém mais cético, e
mesmo assim viciado na instabilidade de Dean... Questionando porque todos
aqueles estao fugindo de seus problemas ali. Questionando suas motivações.
Alguns personagens poderiam ter um filme apenas para eles,
de tanta riqueza de realidades e loucuras que se passam por estas páginas. A
Marylou é, em sua proporção, a personagem que uni os dois protagonistas.
De um lado, a vida sexual livre deles pode ser vista como algo vanguarda para a
época, ela mesma como uma feminista... Mas de outro, ela é apenas uma criança
sozinha e perdida. E as mulheres ali são apenas usadas e
abandonadas.
Creio que é isso que não amei está história, por
mais que se queira enobrece-la, são todos crianças sozinhas e perdidas
buscando desesperadamente por algo. E machucando-se e a outros por seu caminho.
São inconsequentes demais. Eu teria mais respeito pelo Salt se quando
ele ficasse sem dinheiro, fosse trabalhar, ao invés de sempre
procurar a saída mais fácil. E endeusar Dean é algo
tao fácil, mas triste também.
Eu compreendo sua mística, contudo de livros com o pé na
estrada, continuo fiel a Into The Wild. É compreender a vida que procuro nela, não fugir desta.
“Não era isso. Algo, alguém, algum espírito nos perseguia, a
todos nós, através do deserto da vida, e estava prestes a nos apanhar
antes que alcançássemos o paraíso. Naturalmente, agora que reflito sobre
isso, era apenas a morte: a morte vai nos surpreender antes do paraíso. A única
coisa pela qual ansiamos em nossos dias de vida, e que nos faz gemer e
suspirar, sujeitos a todos os tipos de dóceis náuseas, é a lembrança de uma
alegria perdida, provavelmente experimentada no útero, e que somente poderá ser
reproduzida (apesar de odiarmos admitir isso) na morte. Mas quem quer morrer?”
Nenhum comentário:
Postar um comentário