Teus; são teus meus dizeres,
são teus meus desejos...Sou Tua;
Ela abriu os olhos ainda sufocada por sonhos confusos,
desorientada de onde estava. Contudo acordou bem, sem nem acreditar que o sol
não havia despontado, o gato miado e nem o relógio despertado. Sentia-se leve,
sem consegui-lo explicar bem.
Recordou-se não estar só, e fitou demoradamente o corpo ao
lado seu. A figura imponente de bruços, respiração pacifica e braço que
agarrava sua cintura com certa posse. Tentou se desvencilhar, conseguindo
apenas o oposto, o abraço ainda mais íntimo e dominante.
E por um momento cálido não quis realmente sair dali. Mas
com alguma destreza – nada circense - se afastou, apoiando as costas à parede
gelada na qual a cama tocava. O leito era estreito e não permitia uma separação
compreensiva, suas pernas ainda roçavam na pele dele.
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Prendeu as mechas rebeldes com alguns grampos, ato feito sem
esconder o voyeurismo diante de seu amante. De poder observá-lo sem pressa e
sem preocupar-se em denuncias de seu semblante. Podia permitir a sua face
qualquer expressão aflorada, não era observada, observava.
Com um gesto imperativo, puxou os lençóis, lançando-os longe, expondo a nudez
de ambos. Conteve-se para não mergulhar os dedos nos cabelos dele,
deslizando-os até roçar na barba por fazer e nos lábios convidativos. Mesmo
dali, podia sentir o apimentado da boca dele, o corpo salgado e o sexo
agridoce.
Esfregou seus olhos. O sono insistia em seu feitiço. Talvez fosse apenas uma
preguiça demorada, uma vontade preguiçosa de não sair dali tão cedo.
Mentalmente, riscou o contorno dos ombros dele, sublinhando cada detalhe caro
das costas até as coxas, as pernas em si, os pés. Aquele corpo era novo a ela,
o sorriso, as palavras, as confissões tão recentes. Questionava-se há quanto
tempo se conheciam, provavelmente 2 meses. Não lembrava ao certo. Talvez. Porém
menos era o tempo que compartilhavam a volúpia, o carinho, a cumplicidade. Sim,
disso tinha certeza.
Iniciou acreditando em algo doce e frívolo, um capricho de ambos que não
duraria muito. Logo ele a esqueceria pela graça de outro alguém e ela faria o
mesmo. A geografia manteve-os afastados. Outros existiram, indeed; versos
ressentidos foram trocados entre eles e muito do que ocorreu neste ínterim de
separação permaneceu em brumas. E sem lógica, algo... Algo os atraia. Alguma
coisa sem definição fez com que quilômetros não significassem nada, e mesmo
apreensiva com qual seria a postura dele, ao revê-lo sorrindo, recordou-se
porque o queria tão bem.
Ela compreendia que eram diferentes, podia enumerar as diferenças ferozes que
os repeliriam. E simultaneamente, havia aquela independência mesclada com
liberdade, um carinho zeloso pelos seus, uma sinceridade de idéias, uma alegria
iluminada, uma sensualidade sem escusas e uma maturidade crua... Assim, ela o
admirava, e assim o desejava.
Claro, que ela sabia que ele a queria, no mais, não poderia verbalizar o que
ele sentia, de que maneira a desejava, o que pretendia. Isso apenas ele, do
contrario ela estaria apenas criando conjecturas que naufragariam ao primeiro
forte vento de insegurança. E o seu desejo não era conseqüência do dele, tinha
força própria e vontade emancipada, então não se prendia em devaneios alheios e
nem em fuxicos de terceiros.
Tinha consciência que era próxima a partida dele, regressaria a vida de antes
dela. Esperava poder revê-lo. Uma vez mais, para refazer as lembranças. Quem
sabe mais de uma vez. Sentiria saudades, não apenas a falta de te-lo em sua
cama, pois seu desejo por ele não era exclusivamente isso. Falta dele. Do
universo singelo que ele apresentava a ela.
Foi desperta por uma voz, um sussurro melhor:
–Tudo bem, meu anjo?
–Tudo. Nada demais.
–Então, por que você está tão longe de mim? – simultâneas as palavras, as mãos
dele lhe envolveram, como dantes já haviam feito. E seu efeito era notório a
ambos.
Ela sorriu. Sorriso tímido. Sorriso que entrevem saber-se bem quista. Gostava
da maneira pela qual ele a tocava. Amada de um jeito diferente. Maneira única
aos dois. Nunca antes experimentada, nunca mais repetida. Pois cada dois é
reação química singular, que se aperfeiçoa se cada parte assim o permitir, ao
exilar suas vaidades, mentiras e medos.
Admirou o olhar dele, olhos gentis; era dessa maneira que ela sempre os
recordaria. Sempre gentis quando ele a mirava a primeira vez, e depois de
tocá-la, beijá-la, lambe-la, os mesmo olhos transbordavam um desejo luxuriante
e expressivo, o qual ela não sabia dizer se era puro reflexo do seu.
Tendo-a junto de si, ele contemplou os traços firmes e confiantes dela. A
lascívia contida no simples ato de morder o lábio inferior. A boca em oferta.
Os olhares satíricos que desnudavam seu íntimo imaginário erótico. Olhos
mordazes e sinceros. O olor pungente, sensual e feminino.
Ele tinha consciência de como ela o dominava. Com um gesto coditiano. Com uma
palavra honesta. Com um sorriso simples. Não temia este império, pois percebia
o quanto ela era sua cativa também. O quanto ambos sucumbiam felizes a esta
passional guerrilha. Passou suas mãos pelos contornos atrevidos dela, com
força, a reconhecer a sua geografia corporal; apossando-se dos fascinantes
côncavos e desfrutando das maravilhas dos convexos. Saboreando as sensações
ocasionadas em sua amante.
Inevitavelmente, as bocas se casaram, as línguas candentes e tenras se
deliciaram. Os corpos se enlaçavam. As pernas criavam maliciosos nós,
desafiando qualquer na tarefa de vislumbrar quem eram seus donos.
A mão gulosa abocanhava o seio dela, proclamando-o seu. Ela mordia-lhe o ombro
com privilegio; pueril intenção de demonstra-lhe a intensidade de seu desejo,
que beirava a dor de não saber mais como expressa-lo, de como por palavras em
algo assim. Brutal agrado. Prazer desenfreado.
A boca dele percorria o pescoço, o colo, os seios dela, sugando sua pele
experimentando o gosto -ousadamente- adocicado dela, sentindo-a quente e suave,
sentindo-se excitado por explorá-la assim, em descobri-la receptiva aos seus
desmandos e bel-prazer. Manipulando-a, apalpando-a.
As respirações se desencontravam e tornavam-se murmúrios provocantes declamados
entre eles, volatilizando os ânimos, transformando os movimentos ainda mais
bruscos e imprescindíveis.
Ele a puxou para si, conduziu o corpo dela e o seu até estarem sentados,
entrelaçados, de frente um ao outro. Anseio consumindo-os. Ela segurava o rosto
dele e o beijava com fome enquanto arranhava seu peito. Ele agarrava a cintura
dela com uma mão enquanto a outra contornava a nádega com sofreguidão...
Apossando-se da coxa em seguida... Deslizando seus dedos ao sexo
dela...Sentindo-a úmida... Sentindo-a... Sussurro de deleite... Não havia
certeza quem o havia proferido.
Posicionando suas mãos para trás do corpo, se afastando um pouco, ela se deixou
mimar por ele. Era tocada com delicada precisão. Ela respondia ao olhar dele, e
permaneciam a se adorar, sugando prazer no prazer dado. Certa simbiose
apaixonante... Música interminável...
Até que ela segurou as mãos dele, colocou-as no colchão... Não podia mais,
estava ela a sentir o corpo todo arrebatado de prazer, pronto a se desfazer...
Olhou com determinação e malicia. Era sua vez de mimá-lo. Ungiu as mãos com
óleo perfumado, e iniciou as caricias. Suaves no inicio... Torneando o
membro... Pressionando-o... Sentindo a excitação... E aos poucos, carinhos mais
rudes e céleres...
Ele a envolveu e a conquistou. Ela compreendeu e se rendeu. Não havia mais
contentamento entre os dois, apenas um anseio urgente de se fundirem, de se
perderem. Ela confessou sem tortura:
–Eu quero você.
–Quero você também, demais...
– Meu amor, quero você dentro de mim, quero sentir você dentro de mim...
Ele a levantou um pouco, penetrando-a devagar, arrancando um gemido perdido.
Moveram-se sem pressa, como se qualquer oscilação mal planejada arruinasse o
que se passava ali.
Foi também ele que se recordou.
– Amor, não vamos arriscar...ah...Não vale a pena...
– Eu sei...afff...Eu sei...Mas já sabe que você tem que me soltar...
As vozes entoavam roucas e desconexas. Ela concluiu seu pesar entre um beijo e
outro:
–Para de me beijar; você me roga razão..e me beija e beija e me toca e
abraça... Como você quer que eu deseje sair daqui?....Agora chega, não vale a
pena a pressa...
Pequenos sorrisos tornaram-se risadas e voltaram a sorrisos e olhares e meias
palavras, enquanto ela se esticava para pegar o papel laminado, e ele a
mordiscava ao azar, por onde os dentes alcançassem.
A amante se ajoelhou na cama diante dele em erótica prece: mãos, látex e
sagacidade. Ele testemunhou, participou, agradou-se de ser bulinado até o
fim... Amém. Então, tomou-a, deitou-a, beijou-a e juntou-se a ela no gozo.
Seu corpo imerso ao dela. Ondulando. Mareando. Possuindo. Oceano furioso.
Demente...Insanos, ambos...Corpos alucinados...A pulsar...A gemer...A se
quererem...Sem fim...Sem fim...
Ele determinava o ritmo como que para enganar o êxtase, perpetuando o prazer.
Ela se continha como que para iludir o real impacto dele, atrasando o seu
limite; controlando os músculos -que o recebiam em abraços reservados- para
saciá-lo ao máximo. Conservavam-se naquela ode mútua de sussurros, carinhos
quentes de agrado....
Chegando num limite humano de desespero, e as mãos trocaram de donos, emigraram
de corpos e regiam um compasso frenético...
–...Te amo...-escapou-lhe dos lábios.
–...Eu te amo tanto....-ouviu-se em resposta.
Então ele a viu ao seu lado. E o abismo diante deles. Sorrisos cúmplices. E não
havia mais ninguém a que ele queria ao seu lado agora. Ele confiava nela,
desejava e amava. Deram-se as mãos. Não havia temor. E pularam... A
adrenalina... Nada mais, apenas os dois...E ele viu que aquilo somente poderia
ser uma overdose de vida e felicidade. E sorriu.
Então ela reconheceu os sinais nele...os sinais nela própria...Era o fim. O
doce fim. O apogeu da melodia...E ela sentiu que todos os relógio pararam em
respeito e os planetas não ousaram mais transladarem, nem mesmo os satélites se
moveram... Aquele tempo infinito de graça era deles... E ela sabia com certeza
que a felicidade havia adquirido novo sabor com ele ao seu lado. E sorriu.
Somente uma estrela brilhava com intensidade efusiva. Aquela que havia
norteado, de forma marota, todos os encontros deles.
12 de junho de 2007.
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