sábado, 16 de junho de 2012

Fragmentos: A Estrela que nos norteia







Teus; são teus meus dizeres,
são teus meus desejos...Sou Tua;



Ela abriu os olhos ainda sufocada por sonhos confusos, desorientada de onde estava. Contudo acordou bem, sem nem acreditar que o sol não havia despontado, o gato miado e nem o relógio despertado. Sentia-se leve, sem consegui-lo explicar bem. 

Recordou-se não estar só, e fitou demoradamente o corpo ao lado seu. A figura imponente de bruços, respiração pacifica e braço que agarrava sua cintura com certa posse. Tentou se desvencilhar, conseguindo apenas o oposto, o abraço ainda mais íntimo e dominante.

E por um momento cálido não quis realmente sair dali. Mas com alguma destreza – nada circense - se afastou, apoiando as costas à parede gelada na qual a cama tocava. O leito era estreito e não permitia uma separação compreensiva, suas pernas ainda roçavam na pele dele.
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Prendeu as mechas rebeldes com alguns grampos, ato feito sem esconder o voyeurismo diante de seu amante. De poder observá-lo sem pressa e sem preocupar-se em denuncias de seu semblante. Podia permitir a sua face qualquer expressão aflorada, não era observada, observava. 

Com um gesto imperativo, puxou os lençóis, lançando-os longe, expondo a nudez de ambos. Conteve-se para não mergulhar os dedos nos cabelos dele, deslizando-os até roçar na barba por fazer e nos lábios convidativos. Mesmo dali, podia sentir o apimentado da boca dele, o corpo salgado e o sexo agridoce.

Esfregou seus olhos. O sono insistia em seu feitiço. Talvez fosse apenas uma preguiça demorada, uma vontade preguiçosa de não sair dali tão cedo. Mentalmente, riscou o contorno dos ombros dele, sublinhando cada detalhe caro das costas até as coxas, as pernas em si, os pés. Aquele corpo era novo a ela, o sorriso, as palavras, as confissões tão recentes. Questionava-se há quanto tempo se conheciam, provavelmente 2 meses. Não lembrava ao certo. Talvez. Porém menos era o tempo que compartilhavam a volúpia, o carinho, a cumplicidade. Sim, disso tinha certeza.

Iniciou acreditando em algo doce e frívolo, um capricho de ambos que não duraria muito. Logo ele a esqueceria pela graça de outro alguém e ela faria o mesmo. A geografia manteve-os afastados. Outros existiram, indeed; versos ressentidos foram trocados entre eles e muito do que ocorreu neste ínterim de separação permaneceu em brumas. E sem lógica, algo... Algo os atraia. Alguma coisa sem definição fez com que quilômetros não significassem nada, e mesmo apreensiva com qual seria a postura dele, ao revê-lo sorrindo, recordou-se porque o queria tão bem.

Ela compreendia que eram diferentes, podia enumerar as diferenças ferozes que os repeliriam. E simultaneamente, havia aquela independência mesclada com liberdade, um carinho zeloso pelos seus, uma sinceridade de idéias, uma alegria iluminada, uma sensualidade sem escusas e uma maturidade crua... Assim, ela o admirava, e assim o desejava. 

Claro, que ela sabia que ele a queria, no mais, não poderia verbalizar o que ele sentia, de que maneira a desejava, o que pretendia. Isso apenas ele, do contrario ela estaria apenas criando conjecturas que naufragariam ao primeiro forte vento de insegurança. E o seu desejo não era conseqüência do dele, tinha força própria e vontade emancipada, então não se prendia em devaneios alheios e nem em fuxicos de terceiros. 

Tinha consciência que era próxima a partida dele, regressaria a vida de antes dela. Esperava poder revê-lo. Uma vez mais, para refazer as lembranças. Quem sabe mais de uma vez. Sentiria saudades, não apenas a falta de te-lo em sua cama, pois seu desejo por ele não era exclusivamente isso. Falta dele. Do universo singelo que ele apresentava a ela.

Foi desperta por uma voz, um sussurro melhor:

–Tudo bem, meu anjo?
–Tudo. Nada demais.
–Então, por que você está tão longe de mim? – simultâneas as palavras, as mãos dele lhe envolveram, como dantes já haviam feito. E seu efeito era notório a ambos.

Ela sorriu. Sorriso tímido. Sorriso que entrevem saber-se bem quista. Gostava da maneira pela qual ele a tocava. Amada de um jeito diferente. Maneira única aos dois. Nunca antes experimentada, nunca mais repetida. Pois cada dois é reação química singular, que se aperfeiçoa se cada parte assim o permitir, ao exilar suas vaidades, mentiras e medos.

Admirou o olhar dele, olhos gentis; era dessa maneira que ela sempre os recordaria. Sempre gentis quando ele a mirava a primeira vez, e depois de tocá-la, beijá-la, lambe-la, os mesmo olhos transbordavam um desejo luxuriante e expressivo, o qual ela não sabia dizer se era puro reflexo do seu. 

Tendo-a junto de si, ele contemplou os traços firmes e confiantes dela. A lascívia contida no simples ato de morder o lábio inferior. A boca em oferta. Os olhares satíricos que desnudavam seu íntimo imaginário erótico. Olhos mordazes e sinceros. O olor pungente, sensual e feminino.

Ele tinha consciência de como ela o dominava. Com um gesto coditiano. Com uma palavra honesta. Com um sorriso simples. Não temia este império, pois percebia o quanto ela era sua cativa também. O quanto ambos sucumbiam felizes a esta passional guerrilha. Passou suas mãos pelos contornos atrevidos dela, com força, a reconhecer a sua geografia corporal; apossando-se dos fascinantes côncavos e desfrutando das maravilhas dos convexos. Saboreando as sensações ocasionadas em sua amante. 

Inevitavelmente, as bocas se casaram, as línguas candentes e tenras se deliciaram. Os corpos se enlaçavam. As pernas criavam maliciosos nós, desafiando qualquer na tarefa de vislumbrar quem eram seus donos.

A mão gulosa abocanhava o seio dela, proclamando-o seu. Ela mordia-lhe o ombro com privilegio; pueril intenção de demonstra-lhe a intensidade de seu desejo, que beirava a dor de não saber mais como expressa-lo, de como por palavras em algo assim. Brutal agrado. Prazer desenfreado. 

A boca dele percorria o pescoço, o colo, os seios dela, sugando sua pele experimentando o gosto -ousadamente- adocicado dela, sentindo-a quente e suave, sentindo-se excitado por explorá-la assim, em descobri-la receptiva aos seus desmandos e bel-prazer. Manipulando-a, apalpando-a. 

As respirações se desencontravam e tornavam-se murmúrios provocantes declamados entre eles, volatilizando os ânimos, transformando os movimentos ainda mais bruscos e imprescindíveis. 

Ele a puxou para si, conduziu o corpo dela e o seu até estarem sentados, entrelaçados, de frente um ao outro. Anseio consumindo-os. Ela segurava o rosto dele e o beijava com fome enquanto arranhava seu peito. Ele agarrava a cintura dela com uma mão enquanto a outra contornava a nádega com sofreguidão... Apossando-se da coxa em seguida... Deslizando seus dedos ao sexo dela...Sentindo-a úmida... Sentindo-a... Sussurro de deleite... Não havia certeza quem o havia proferido. 

Posicionando suas mãos para trás do corpo, se afastando um pouco, ela se deixou mimar por ele. Era tocada com delicada precisão. Ela respondia ao olhar dele, e permaneciam a se adorar, sugando prazer no prazer dado. Certa simbiose apaixonante... Música interminável...

Até que ela segurou as mãos dele, colocou-as no colchão... Não podia mais, estava ela a sentir o corpo todo arrebatado de prazer, pronto a se desfazer... Olhou com determinação e malicia. Era sua vez de mimá-lo. Ungiu as mãos com óleo perfumado, e iniciou as caricias. Suaves no inicio... Torneando o membro... Pressionando-o... Sentindo a excitação... E aos poucos, carinhos mais rudes e céleres... 

Ele a envolveu e a conquistou. Ela compreendeu e se rendeu. Não havia mais contentamento entre os dois, apenas um anseio urgente de se fundirem, de se perderem. Ela confessou sem tortura: 

–Eu quero você.
–Quero você também, demais...
– Meu amor, quero você dentro de mim, quero sentir você dentro de mim...

Ele a levantou um pouco, penetrando-a devagar, arrancando um gemido perdido. Moveram-se sem pressa, como se qualquer oscilação mal planejada arruinasse o que se passava ali. 

Foi também ele que se recordou. 

– Amor, não vamos arriscar...ah...Não vale a pena...
– Eu sei...afff...Eu sei...Mas já sabe que você tem que me soltar...

As vozes entoavam roucas e desconexas. Ela concluiu seu pesar entre um beijo e outro:

–Para de me beijar; você me roga razão..e me beija e beija e me toca e abraça... Como você quer que eu deseje sair daqui?....Agora chega, não vale a pena a pressa... 

Pequenos sorrisos tornaram-se risadas e voltaram a sorrisos e olhares e meias palavras, enquanto ela se esticava para pegar o papel laminado, e ele a mordiscava ao azar, por onde os dentes alcançassem.

A amante se ajoelhou na cama diante dele em erótica prece: mãos, látex e sagacidade. Ele testemunhou, participou, agradou-se de ser bulinado até o fim... Amém. Então, tomou-a, deitou-a, beijou-a e juntou-se a ela no gozo. 

Seu corpo imerso ao dela. Ondulando. Mareando. Possuindo. Oceano furioso. Demente...Insanos, ambos...Corpos alucinados...A pulsar...A gemer...A se quererem...Sem fim...Sem fim...

Ele determinava o ritmo como que para enganar o êxtase, perpetuando o prazer. Ela se continha como que para iludir o real impacto dele, atrasando o seu limite; controlando os músculos -que o recebiam em abraços reservados- para saciá-lo ao máximo. Conservavam-se naquela ode mútua de sussurros, carinhos quentes de agrado....

Chegando num limite humano de desespero, e as mãos trocaram de donos, emigraram de corpos e regiam um compasso frenético... 

–...Te amo...-escapou-lhe dos lábios.
–...Eu te amo tanto....-ouviu-se em resposta.

Então ele a viu ao seu lado. E o abismo diante deles. Sorrisos cúmplices. E não havia mais ninguém a que ele queria ao seu lado agora. Ele confiava nela, desejava e amava. Deram-se as mãos. Não havia temor. E pularam... A adrenalina... Nada mais, apenas os dois...E ele viu que aquilo somente poderia ser uma overdose de vida e felicidade. E sorriu.

Então ela reconheceu os sinais nele...os sinais nela própria...Era o fim. O doce fim. O apogeu da melodia...E ela sentiu que todos os relógio pararam em respeito e os planetas não ousaram mais transladarem, nem mesmo os satélites se moveram... Aquele tempo infinito de graça era deles... E ela sabia com certeza que a felicidade havia adquirido novo sabor com ele ao seu lado. E sorriu.

Somente uma estrela brilhava com intensidade efusiva. Aquela que havia norteado, de forma marota, todos os encontros deles. 



12 de junho de 2007.





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