domingo, 17 de junho de 2012

Fragmentos: Ao meu antigo amor...





Escuto Nina Simone gritar ne me quitte pas com sua voz rouca e temível. Sei que outros escolheriam uma versão mais tradicional à la Piaf, mas não quero cor-de-rosa no momento.Gosto da tristeza compartilhada por aquela cantora de blues, que geme baixinho para não ser abandonada e pede o esquecimento do tempo perdido e mal compreendido, da mesma maneira, da sonoridade abafada e pautada da gravação antiga.

“Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu...’’

Com a letra em si, la parole, não concordo. A paixão acabou e não se deveria implorar para que se siga vivendo apenas com o amor de um, não basta. Não é justo para nenhum dos envolvidos, por mais que se sinta ser socialmente aceito. Sim, o amor também tem morte natural.


(O vento que corta não tem pena do meu rosto, cubro-o ainda mais com meu cachecol laranja. O frio que sinto no meu peito, com este nada posso fazer).
Por isso, diria a um antigo amor, “sei que nossa separação foi o melhor a ser feito”. E mesmo assim, compreendo que existirão dias de arrependimento. Mas tudo passa. Este não é mais o nosso momento. Espero que ele não se ofenda quando souber de amarguras proferidas por mim, que por não saber mais da minha vida, pense que minhas palavras são exclusivas a ele. A distancia cria mal-entendidos. Às vezes casos interessantes...Todavia, isso é outra historia.
(Procuro nos bolso o suficiente. Conto as Kč. Separo o que quero. Possoouvir o rio. Uma criança foge da sua mãe com um belo doce não mão).
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Penso em romances partidos, que o término não tira o sentido do que foram um para o outro, do que se transformaram por se mesclarem tantas vezes sem fim; nos pensamentos, nas discussões, na cama e no caminho. O que restou? Não pode ter sido nada. Dois serem que juntos foram, estão ligados, queiram ou não. Por libido, por afeto, por consideração, pelo blasé do amor.

(Agradeça a eles pelos romances, músicas, peças de teatro, novelas...Nada é mais produtivo que um coração partido e uma alma devastada. Literatura russa concordaria.)

E com isso, não digo que estarão condenados um ao outro (Deus nos livre com cada ex-amantes tivemos). Apenas que se tornam parte das trajetórias pessoais de ambos, junto com o conselho de Clarice que não se sabe que tijolo tirar e não derrubar o prédio. É o desafio; guardar o deleite, aprender com o terrível, assinar o armistício e ser capaz de ser verdadeiro com o próximo amor. Sem reservas. Não ficar preso ao passado. Como diz Srta.Simone em outra musica “I remember when you used to love me and oh how sweet it was...but it's not enough just to remember, 'cause what good is the past?”…

(Eu disse que era um desafio, puro sentido semântico. O senhor com seus respeitosos cabelos brancos sorri para mim, como se adivinhasse meus pensamentos. Também, pelas minhas escolhas penso que seja fácil advinha-los. Ele me entrega o troco com sua luva que lhe deixam nus os dedos. Eles parecem imunes ao frio).

Por outro lado, talvez, com um trecho em especial desta composição francesa, eu concorde. No qual diz não ser impossível um amor já consumido ser redescoberto. Talvez... sim.... pode ser. Novamente um jasmim em flor. Mas... Talvez. Não se deve prender o fôlego por isso.

(Confesso que ficaria contente se encontrasse aquele antigo e bom amor de novo, e os olhos dele reconhecessem os meus, minhas mãos reconhecessem as suas, sua nudez a minha, e nossos beijos provassem sua magnitude mais uma vez. É um adorável devaneio para uma tarde de janeiro, em Praha 2, comprando LP´s antigos em mercado de pulgas, entre uniformes soviéticos gastos e cópias incompreensíveis de Kundera ...)

‘’...On a vu souvent
Rejaillir le feu
De l'ancien volcan
Qu'on croyait trop vieux
Il est para”t-il
Des terres brulées
Donnant plus de blé
Qu'un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu'un ciel flamboie
Le rouge et le noir
Ne s'épousent-ils pas...’’






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